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Dissulfiram: uso na doença de Lyme

Atualizado: 8 de fev. de 2020


O dissulfiram é uma medicação utilizada primariamente para tratamento do alcoolismo e conhecida há mais de 70 anos. Não é uma medicação da classe dos antibióticos. Seu funcionamento é por inibição enzimática e em um estudo de 2016 da Universidade de Stanford foi demonstrado que podia eliminar todas as formas de Borrelia em culturas e depois foi testado em ratos, com resultados semelhantes. Existem estudos em humanos em andamento e no momento o dissulfiram é uma droga considerada de última linha no tratamento da doença de Lyme, adotada depois do uso de antibióticos. Tudo isso porque apresenta riscos, efeitos colaterais e são necessários certos cuidados durante o uso. Também necessita de exames de seguimento, logo, o acompanhamento médico é imperativo.


Como o dissulfiram age no organismo

- O modo de funcionamento em relação a Borrelia ainda é desconhecido.

- O dissulfiram é um quelante de metais e possui uma atração pelo cobre, formando um complexo que penetra na bactéria. Também quela o manganês, o metal que a Borelia se utiliza para se esquivar de nosso sistema imune (a maioria das bactérias se utiliza do ferro para essa função).

- Possui ampla distribuição nos tecidos, conseguindo inclusive ter ação no tecido cerebral. Acredita-se inclusive que a medicação consegue penetrar nos biofilmes.

- Tem uma meia-vida longa, demora de 1 a 2 semanas para ser completamente metabolizado.


Contraindicações

Pacientes com as seguintes condições devem evitar terminantemente o uso do dissulfiram:

- Toxicidade ao álcool

- Doença cardiovascular (como infartos ou AVC prévios)

- Hipersensibilidade ou alergia ao dissulfiram

- Epilepsia

- Pessoas com alto risco para suicídio

- Gravidez ou mulheres amamentando

- Doença hepática ou renal ativa

- Diabetes


Dosagem

Não existe nenhum protocolo de dosagem estabelecido ainda, mais sabidamente seu início deve ser lento, com doses aumentando gradativamente, o ideal seria dividir a dose da medicação em várias tomadas durante o dia, sendo então o ideal manipular pequenas doses. A dose indicada na doença de Lyme é de 250mg – 500mg. O esquema de dosagem mais utilizado no momento é:

- 1ª Semana: 62,5mg a cada 3 dias

- 2ª Semana: 62,5mg dia sim dia não

- 3ª Semana: 62,5mg todos os dias

- 4ª Semana: alternar 62,5mg em um dia e 125mg no outro dia

- 5ª Semana: 125mg todos os dias

- 6ª Semana: alternar 125mg + 62,5mg em um dia e 125mg no outro dia

- 7ª Semana: 125mg + 62,5mg todos os dias

- 8ª Semana: alternar 125mg + 62,5mg em um dia e 250mg no outro dia

- 9ª Semana: 250mg todos os dias

O ideal é fazer o tratamento por 4 meses, podendo estender por 6 meses nos pacientes mais sintomáticos.


Efeitos colaterais

Apesar de frequentemente bem tolerado, entre os efeitos colaterais podemos citar: encefalopatia, convulsões, neuropatia periférica, hipertensão, distúrbios psiquiátricos e lesões hepáticas que podem ser graves.

Sintomas de toxicidade hepática ocorrem mais comumente entre duas e doze semanas de iniciado o tratamento, mas podem acontecer mesmo tardiamente ou após o tratamento ser descontinuado. Existe relatos de insuficiência hepática grave, com necessidade de transplante hepático.

Também não é infrequente ocorrer intensa reação de Jarisch-Herxheimer, que pode durar vários dias, mesmo após a medicação ter sido descontinuada. Devido a isso é importante um detox adequado durante o uso.

Pacientes que tomam dissulfiram para tratar o alcoolismo raramente desenvolvem neuropatia. No entanto, a experiência mostra que a neuropatia é muito comum entre os pacientes que a tomam por Lyme. Isso pode ser devido ao cobre quelado pelo dissulfiram e liberado no sistema nervoso onde a bainha de mielina já está em mau estado, então o cobre promove a oxidação lipídica nas membranas de mielina, causando ainda mais inflamação. É importante prevenir a neuropatia durante o dissulfiram. Os sinais de neuropatia incluem: formigamento, dormência, fadiga extrema, fraqueza e queimação. Esses sintomas estão associados à neuropatia, e não são uma reação de Herx.

Alguns pacientes com Lyme relatam sentirem-se estranhos com o uso do dissulfiram. Pode ser devido ao aumento da dopamina no cérebro. O dissulfiram inibe a ação de uma enzima no cérebro que transforma a dopamina em noraepinefrina.


Precauções

Qualquer vestígio de álcool no corpo pode rapidamente causar sintomas de ressaca, vômitos, dor de cabeça e sensação de mal-estar. É essencial ter em mente, durante o curso do tratamento, que o corpo é incapaz de metabolizar e eliminar qualquer tipo de álcool, não apenas bebidas alcoólicas. É proibitivo o consumo de álcool por pelo menos 12 horas antes do início do tratamento e por pelo menos duas semanas após o término.

Pacientes alérgicos ao níquel podem se sair melhor e evitar danos ao fígado, seguindo uma dieta baixa em níquel 6 semanas antes do início do tratamento. Isso ocorre porque o dissulfiram também quela (ou liga) o níquel e todo esse níquel removido dos tecidos que irá passar pelo fígado pode danificá-lo, causando o aumento das enzimas hepáticas.

Pacientes com infecções fúngicas devem ser tratados antes de iniciar o tratamento com dissulfiram.

- Exames de sangue

É necessário a execução de exames de sangue de rotina com regularidade em pacientes realizando tratamento com dissulfiram.

Antes de iniciar o tratamento:

Função hepática: alanino aminotrasferase, aspartato aminotransferase, gama glutamiltransferase, fosfatase alcalina, bilirrubina total e frações.

Função renal: uréia, creatinina

Exames gerais: hemograma completo, coagulograma, proteína total e frações, bioquímica

Exame de gravidez em mulheres em idade fértil

A função hepática e renal deve ser medida semanalmente no primeiro mês, mensalmente até o sexto mês e trimestralmente após.

O tratamento deve ser descontinuado se as enzimas hepáticas aumentarem mais do que três vezes o valor normal.

- Interações medicamentosas

Algumas substâncias devem ser evitadas quando se institui o tratamento com o dissulfiram:

Isoniazida: problemas de comportamento e coordenação.

Nitro-5-imidazóis (metronidazol, ordinazol, secnidazol, tinidazol): delírio aguddo e confusão mental.

Fenitoína: aumento do risco de toxicidade por fenitoína.

Varfarina: aumento do risco hemorrágico.

Teofilina: necessita ter a dose ajustada por diminuição do metabolismo da teofilina.

Benzodiazepinas: o dissulfiram potencializa os efeitos sedativos.

Antidepressivos tricíclicos: potencialização dos efeitos colaterais do dissulfiram.

Cafeína: dissulfiram inibe a eliminação da cafeína, potencializando seus efeitos.

Naltraxone: aumento da toxicidade hepática.


Restrições

EVITAR QUALQUER TIPO DE ÁLCOOL: xarope para tosse, ervas em álcool, loção pós-barba, perfumes, doses homeopáticas em álcool, sprays de cabelo, corantes, loções, enxaguantes bucais. Evite maquiagem, use suco de beterraba e óleo de vitamina E. A reação ao uso de álcool pode ser fatal, resultando em convulsões, vômito e perda de consciência. Proibitivo todas as bebidas alcoólicas, incluindo cerveja. Cuidado com as exposições ocupacionais a solventes. Desodorizantes contendo álcool não podem ser usados durante o tratamento, cuidado: desodorantes "sem álcool" têm álcool (verifique os ingredientes). Observe que alguns alimentos têm acetaldeído, mas a porção é tão pequena que não deve ser perigosa (microgramas ou, às vezes, menos). Evitar vaping, pois libera aldeídos. Álcool-gel e limpeza da pele com swab alcoólico para acesso venoso não devem ser usados.

EVITAR ALIMENTOS CONTENDO ÁLCOOL: qualquer tipo de vinagre (inclui condimentos como ketchup, mostarda, maionese, molho inglês), álcoois de açúcar (sorbitol, manitol, isomalte, maltitol, lactitol, xilitol e eritritol), cafeína / café, chá verde, baunilha em álcool, estévia em álcool.

Qualquer alimento fermentado: (kombucha, cidra de maçã, vegetais fermentados).

EVITAR ALGUNS TIPOS DE ERVAS / SUPLEMENTOS: maracujá, valeriana, erva-de-santa-luzia, Phytolacca decandra, mil-folhas. Não utilizar ácido alfa lipóico e cobre.

EVITAR CARBOIDRATOS: pois podem servir de alimentos para fungos que liberam acetaldeido, uma forma de álcool.

EVITAR AÇUCARES DERIVADOS DE ÁLCOOL: sorbitol, manitol, isomalte, maltitol, lactitol, xylitol, eritritol.

THC MEDICINAL: pode induzir psicose.


Eliminando toxinas

O ideal é que durante o tratamento se adote rotinas de eliminação de toxinas para que os efeitos colaterais sejam melhor tolerados. Entre os métodos de eliminação os mais empregados são:

- N acetil cisteina 600mg + glicina 500mg

- Glutationa

- Vitamina C

- Desmodium (Desmodium ovalifolium)

- Taurina

- Diidromiricetina (ampelopsina)

- Aumentar ingesta de líquidos

- Carvão ativado (tomar mais de três horas após refeição ou medicação)

- Molibdênio

- Selênio

- Ácido pantotênico / pantenina

- Colestiramina 4g 2x dia

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